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Direito básico de presidiárias, ultrassonografia também reduz custos de saúde do sistema

Mapeamento de saúde feito com exames de ultrassom identificou pelo menos uma doença em mais da metade das mulheres presas avaliadas, ressaltando impacto do recurso na saúde pública

Direito básico de presidiárias, ultrassonografia também reduz custos de saúde do sistema
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Há 16 anos trabalhando no Centro Hospitalar do Sistema Penitenciário (CHSP) e 12 anos como médica dentro de um presídio, Soraya Andrade defendeu em seu doutorado a importância clínica e econômica da ultrassonografia no sistema penitenciário feminino. Para a tese, foram realizados exames ultrassonográficos em mulheres privadas de liberdade do Centro de Progressão Penitenciária Feminino Dra. Marina Marigo Cardoso de Oliveira do Butantan (CPP do Butantan), entre 2015 e 2020, para identificar e caracterizar as doenças mais comuns nessa população. Das 478 mulheres examinadas, 266 (56%) apresentaram ao menos uma das afecções mais frequentes na penitenciária. 

Os três mais frequentes foram mioma (65 casos), litíase (cálculo) biliar (vesícula) (64) e litíase renal (55). Além disso, 97 mulheres (20%) não apresentaram nenhum achado, e 115 (24%) apresentaram outros achados diferentes dos listados. O total de mulheres diagnosticadas foi de 381. “A prisão causa estresse intenso, levando a descontrole hormonal, irregularidade menstrual e formação de cistos. Além disso, as condições do confinamento agravam esses problemas”, explica Soraya. Esses resultados permitiram entender que a realização de mutirões de ultrassonografia é uma estratégia eficaz para identificar problemas e dar a essa parcela da população o acesso a um direito constitucional.                  

“Todo mundo tem direito, pela lei, à saúde e o preso tem que sair igual ou melhor do que entrou no sistema carcerário. Essa visão que temos que ter”

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Mulher branca com cabelos longos castanhos escuros usando um casaco de gola alta azul claro e um cardigan azul escuro

Soraya Andrade - Foto: Arquivo pessoal

A pesquisa, desenvolvida na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, também discutiu as associações entre os achados ultrassonográficos e características demográficas, como idade, índice de massa corporal (IMC), grau de instrução e orientação sexual. O trabalho identificou, por exemplo, que miomas foram mais frequentes em mulheres de maior faixa etária e com maior IMC. Já o grupo com alterações na textura do útero tinha idade mais avançada, e mulheres com síndrome do ovário policístico tinham menor idade. Os dados ampliam a compreensão sobre as doenças mais comuns em diferentes grupos de mulheres presidiárias. 

Economia com diagnóstico precoce

Para realizar essa pesquisa, a médica recorreu a uma parceria com o Centro Assistencial Cruz de Malta (CACM). Todas as detentas passavam por uma triagem no CPP e em um dia marcado eram transportadas para o CACM, onde passavam por anamnese (entrevista médica), exame clínico e ultrassonografias. As idas eram feitas em mutirões que levavam cerca de dez pessoas por grupo, o que reduziu os gastos com escoltas e transporte. Foram feitos 1.254 exames ultrassonográficos de 2015 a 2020 e, com base nesses dados e diagnósticos, foram aplicados métodos estatísticos para as análises inferenciais – como a relação entre a faixa de idade e os diagnósticos. 

A ginecologista argumenta que a adoção de mutirões de ultrassonografia e equipes móveis de saúde poderia ser estendida a outras unidades prisionais e até para populações vulneráveis em geral. Ela afirma que “com planejamento e parcerias é possível atender essas mulheres de forma eficiente. O uso de ultrassonografia portátil, por exemplo, é uma alternativa viável para localidades remotas ou contextos de vulnerabilidade”.

De acordo com Soraya, a pesquisa possibilitou diagnósticos precoces de condições graves, como cânceres, que, se tratados a tempo, reduzem custos para o Estado e aumentam as chances de recuperação da paciente. Segundo ela, essa abordagem pode ser replicada em presídios masculinos, com dados específicos para ajustar os métodos de triagem. “Isso faz parte dos impostos que pagamos. Quanto melhor tratarmos o detento, menor o custo. Por exemplo, uma pessoa com insuficiência renal crônica precisa fazer diálise três vezes por semana. Isso gera custos e requer escolta de dois a quatro agentes penitenciários. Diagnósticos precoces e exames em mutirão reduzem esses custos”, continua.

Mais que diagnosticar

A assistência à saúde de pessoas em situação de prisão é tida por muitos como um privilégio indevido. Para a pesquisadora, essa ideia ignora a lógica econômica e constitucional do sistema prisional. “Muita gente questiona: ‘Por que gastar dinheiro com preso?’. Mas esquecem que é muito mais caro não tratar essas pessoas. Um detento renal crônico, por exemplo, custa ao Estado um valor imenso em diálises e escoltas semanais, além do impacto na saúde pública quando ele retorna à sociedade sem ter recebido tratamento adequado”, argumenta.

Sua tese reivindica que os dados sirvam de exemplo para fomentar políticas mais abrangentes em torno do sistema prisional. “É viável estabelecer parcerias para oferecer serviços médicos nas prisões, com profissionais qualificados. Além disso, atendemos gestantes, realizando ultrassons e acompanhamento. Isso impactou positivamente o presídio e pode beneficiar outros”, aponta. Com a lista de espera para exames como ultrassom chegando a seis meses, mesmo em mulheres com hemorragia, ela alerta que essa demora “pode atrasar diagnósticos críticos.”

As ações realizadas com as presidiárias resultaram também em uma atividade pedagógica. “Muitas nunca haviam feito exames enquanto estavam soltas. Pude direcionar tratamentos a tempo, evitando problemas graves, especialmente nas idosas. Tivemos um impacto significativo na vida das detentas, algo que vai além do ambiente prisional. Vão levar para a vida delas como cidadãs.”

Mais informações: [email protected], com Soraya Andrade

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JHN Redação

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